Resenha: Fazendo meu filme 2, Paula Pimenta

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Classificação: 3 estrelas

Páginas: 325

Editora: Gutenberg

Tema: adolescência, amor, cinema, intercâmbio

Link: Saraiva

Bom, eis que depois do final feliz apresentado bem no final do último livro, a Fani e o Léo têm uma questão com que lidar durante todo esse livro.

O intercâmbio!

Estudar na Inglaterra, durante um ano inteiro, já era uma confirmação mesmo antes do primeiro volume terminar, mas o que a autora reservou para aquele final deixa as perspectivas um tanto dramáticas nessa obra. A Fani finalmente tem um amor de filme para chamar de seu, mas se vê entrando num avião e viajando para muito longe dele exatamente ao mesmo tempo.

As coisas só se agravam por um comportamento infantil da personagem – embora compreensível – que a deixa logo nas primeiras páginas com o mesmo status de antes: sozinha de novo.

Mais uma vez, aqui, temos de considerar o público alvo a que se destina o livro e admitir que Estefânia Belluz não pode se comportar, de repente, como alguém mais madura do que ela sempre foi.

No entanto, há uma perspectiva que me anima. Depois de todo o intercâmbio e os consequentes aprendizados que ela teve, espero para o próximo livro um notável grau de amadurecimento!

Não é que a personagem seja infantilizada, mas como muitas adolescentes Fani é essencialmente dramática, chorona e – o que mais odeio nela – difícil de enxergar aquilo que está na nossa cara o tempo inteiro. Sim, mas uma vez isso acontece aqui. A previsibilidade é um ponto contra quando a personagem principal não vê aquilo tão nitidamente quanto nós e isso é depois usado como argumento\ elemento surpresa alguns capítulos depois.

Há, também, outro fator somado a isso que é o clichê. Agora com uma roupagem de triângulo amoroso (que acredito ser melhor explorado, mais para a frente) o livro ganha dois “teams” e uma protagonista decidida. Não faz muito sentido para mim se isso for estabelecido mesmo como um triângulo quando Fani já sabe o que quer e porque quer. A temática já foi usada nesse livro.

Entretanto Paula Pimenta continua surpreendendo! O que acontece com Christian no fim é um exemplo nítido disso. Acredito que esse é um plot que pode render muito bem nos próximos exemplares. A narrativa também é suave e fluida, páginas passam sem que o tempo seja percebido.

Acho só uma pena que o livro, agora, pareça um pouco datado. Por exemplo, quando escrito a comunicação por e-mail e chats fazia mais sentido do que hoje, em 2016. Foi impossível não pensar como o livro seria na era Whatsapp! De todo modo, não é uma culpa da autora nem de ninguém. Só foi curioso pensar nisso como um método.

Como alguém que leu esse livro antes de também viajar para a Europa e conhecer novos lugares e jeitos de olhar o mundo, achei incrível.

Melhor citação: (p.72)

“Mas eu não preciso chegar ao fim do caminho para saber o que a Dorothy demorou tanto para descobrir: ‘Nenhum lugar é melhor do que a própria casa’.”

Resenha: A mulher silenciosa, A.S.A Harrison

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Classificação: 2 estrelas

Páginas: 254

Editora: Intrínseca

Tema: casamento, drama, tragédia

Link: Submarino

Se existe um caso de marketing malsucedido isso acontece nesse livro!

A primeira e segunda páginas são bombardeadas de trechos de resenhas super positivas que até se atrevem a comparar a obra que estamos prestes a ler com Garota Exemplar, da Gillian Flynn.

Eis o problema! Garota Exemplar é muito bom e infinitamente superior a esse livro. >.<

Aqui temos a história de Jodi e Todd, um casal de meia idade com uma vida confortável num bom apartamento, um afável cachorro e uma rotina já bem estabelecida e bem encaixada no padrão de vida de ambos.

O problema real se dá quando Todd, um autêntico infiel assim reconhecido pela esposa, se envolve num “problema” além das expectativas de ambos. É quando Jodi, a esposa compreensiva e comedida percebe que suas vingancinhas bobas de sempre não são capazes de sanar a nova mágoa.

É aí que o livro supostamente deveria ser “viciante”, “para ser lido de uma vez” e “afiado e psicologicamente intrincado”! Os trechos de conceituadas resenhas elevam o conteúdo dessa obra de A.S.A Harrison à máxima potência, mas o que nos é entregue não é nada tão sofisticado.

Na verdade Jodi não é uma personagem tal qual nos parece ser e o plano final não é nada senão previsível. Enfim, o livro tem uma narrativa ágil e competente, mas é a expectativa sobre ele que estraga o resultado final. A história simplesmente não é tão original! Parece tirada de um jornal e acrescida de derretidos elogios. Ponto!

Melhor citação: (p.29)

“Os outros não estão aqui para satisfazer as nossas necessidades ou expectativas, e nem sempre nos tratarão bem. Não aceitar isso é ver surgir sentimentos de raiva e rancor. A paz de espírito vem quando aceitamos as pessoas como elas são, enfatizando seu lado positivo.”

 

Resenha: Pequenas grandes mentiras, Liane Moriarty

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Classificação: 2 estrelas

Páginas: 397 (84 capítulos)

Editora: Intrínseca

Tema: mentira, segredo, abuso

Link: Livraria Cultura

Quando penso nesse livro, imagino que a autora quis fazer algo semelhante ao seu antecessor (ou seria sucessor?) – e BOM – O segredo do meu marido.

Bom, não funcionou. Tanto faz, na verdade, qual livro ela escreveu primeiro. O que conta é a aparente falta de criatividade. De novo há capítulos alternados sob a visão de três personagens femininas que, ao fim, têm suas vidas bifurcadas por algo do passado.

O problema com esse livro não é a estrutura que tão bem funcionou no outro livro. De modo algum! Eu identifiquei a semelhança, mas não me coloquei em posição de ataque quanto a isso. Pelo contrário. Eu estava bastante receptivo com Celeste, Jane e Madeline e seus respectivos núcleos.

A questão aqui é ter errado a mão no suspense. A autora trabalha com clichês que, sim, são facilmente perceptíveis. O segredo de Jane foi logo desvendado por mim e o drama final também não fora difícil de prever – especialmente a conexão dos personagens.

Num livro que se orienta a partir do mistério dos dias antes de determinado evento (o clímax), ter esse enredo descoberto pelo leitor é um golpe de má sorte. Caso a autora quisesse trabalhar isso de forma competente, saberia que o último jeito de conseguir êxito seria trabalhar com clichês e personagens caricatos. Sério, minha má vontade com esse livro é tamanha só ao lembrar do “grande evento” e seu desenrolar lento e piegas.

Não recomendo. Passei dois meses para ler o livro e, não fosse o começo decente e a descrição do final razoável, teria demorado o dobro. Talvez, por isso, as duas estrelas. Por isso pela inovação narrativa de colocar trechos de conversas alheias, demonstrando ainda mais pontos de vistas num livro onde já tínhamos três.

P.S: melhor citação (xx)

“zzzzzz”

Resenha: Eleanor & Park, Rainbow Rowell

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Classificação: 4 estrelas

Páginas: 325 (58 capítulos)

Editora: Novo Século

Tema: amor, drama, bullying, aceitação

Link: Saraiva

Sem dúvidas o livro mais fofo que eu li. Não há outra palavra. Enquanto lia e Eleanor & Park iam se aproximando do romance que de fato esperávamos desde o príncipio, o único adjetivo com que eu podia descrevê-los era esse.

Com a premissa um tanto básica de mostrar as vidas dos protagonistas, a autora consegue de forma eficiente fazer com que o leitor torça por ambos. Park é um decendente oriental que pratica luta marcial por influência do pai e tenta aprender a dirigir um carro sem câmbio automático pelo mesmo motivo. No fundo ele é uma amante de boa música e quadrinhos, o que acaba, depois, se tornando um ponto em comum com Eleanor.

Ela, uma ruivona com trajes esquisitos e uma compleição incomum nada mais é do que a filha mais velha de uma família completamente desestruturada e sem condições. Eleanor nao tem dinheiro para roupas melhores, um telefone ou um walkman.

Sim, a história é ambientada nos anos 90 e tem capítulos muito curtos com perspectivas alternadas, o que é bem dinâmico. Tudo nesse livro é datado, mas extremamente relembrável. Esse livro tem um gosto e um sabor bem específicos, e é um dos pontos favoráveis.

Como desfavorável, destaco a repetição de modismos. No miolo do livro, aquele ritmo abrasador que nos enerva a continuar esfria um pouco. A trama não apresenta novidades. Sempre fico com a sensação de que esses livros seriam perfeitos se tivessem menos páginas. Seria mais digno com o leitor, acredito.

Se a história é simples, dar ar de complexo a ela com páginas em demasia só cansa. Passei pelo mesmo deserto quando lia ‘Ana e o beijo francês’, que também começa muito bem e cansa lá pelo quase-final. De todo modo, a leitura é mais que recomendável!

P.S: melhor citação (p.312)

“A gente acha que abraçar uma pessoa com força vai trazê-la mais para perto. Pensamos que, se a abraçarmos com muita força, vamos senti-la, incorporada em nós, quando tivermos longe.”

Resenha: Que horas ela volta?

O que dizer de ‘Que horas ela volta?’? Bom, é certamente um dos meus filmes preferidos do âmbito nacional e até mundial!! Ora, a razão é simples. Esse filme fala. Ele tem o que dizer, em definitivo.

A película de Anna Muylaert fala com imagens, toca em feridas, proporciona alívios cômicos e tem um momento de glória que eu tenho certeza que libera ocitocina em todo mundo que assiste, porque a sensação é de um relaxamento feliz, uma alegria ocasional.

A história é sobre a Val (Regina Casé), que é empregada há muito tempo numa casa de família abastada em São Paulo. Val é a típica nordestina que passou pelo êxodo. Isto é, ela tem um eterno sotaque e parece muito simples em seus sentimentos, ações e mecanismos funcionais do pensamento. Mas não entenda com isso que a personagem é estereotipada.

Embora os personagens pareçam clichê, há um reconhecimento de quem assiste de que eles são legítimos.

Toda vida é clichê, no fim.

Bom, Val tem uma filha que não vê há muito tempo, a Jéssica (Camila Márdila), que precisa ir exatamente à São Paulo para prestar uma prova do vestibular. Pronto, esse é o plot do filme.

No entanto, essa história simples é muito poderosa pelas entrelinhas, questionamentos e suscitações que levanta. Certamente é um filme que alguns professores passarão na escola – os de geografia e história, ou mesmo os de português e literatura -, mas não pelo didatismo chato e obrigatório com que se comprometem alguns filmes. Não, esse é um filme que alguns mestres usarão porque ele humaniza e, mais do que isso, nos torna complacentes com a humanidade alheia.

Bom, certamente foi o que a história me provocou. Alguns verão mais objetivamente, não tem problema. Tenho absoluta certeza que a proposta da roteirista não foi tão poética, mas básica. Contar uma BOA história. Definitivamente acontece. Não é a toa que é um filme premiadíssimo, aliás.

Todo mundo deveria ver.

Resenha: O exorcista, William Peter Blatty

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Classificação: 3 estrelas

Páginas: 331 (4 partes)

Editora: Agir

Tema: demônios, psicologia, medicina, drama, fé

Link: Saraiva

Bom, eis o mito. Ler esse livro implicou em mim a necessidade de conhecer tanto a clássica história imortalizada pelo cinema quanto conhecer os aspectos técnicos de um livro de horror.

Como sempre hesitara em ver o filme – só depois de ler esse livro foi que tive coragem -, conhecer os aspectos da possesão de Regan McNeil foi bastante interessante. Lindo em dois dias de um fluxo contínuo, devo ser bastante explícito quanto ao aspecto da obra: não considero horror, mas ficção bem escrita.

Isto é, não sei em que categoria classificar o livro. Talvez drama caiba bem, não sei. Fato é que a história menos se trata sobre assustar o expectador com um demônio\personagem e mais sobre contar como esse mesmo personagem se instalou naquele enredo familiar e principalmente como as pessoas em volta lidam com isso.

O ritmo do livro é fluido, ainda que bem detalhado. Leva certo tempo até o demônio fazer suas maiores atrocidades com a menina – se masturbar com o crucifixo, por exemplo -, mas os sinais estão ali desde o começo em que os móveis mudam de lugar e os barulhos estranhos podem ser ouvidos.

Há, então, uma grande saga que envolve fé e ateísmo, medicina e religião, razão e sobrenatural. O livro – e mesmo o filme! – é mais sobre isso do que o simples horror da possessão. Essa história é menos sobre o que achei que fosse e mais sobre o questionamento da fé e os mistérios que há entre o céu e a terra.

Considero o livro bem escrito e memorável, mas não nada demais. Assim como o filme, que me provocou risadas, acredite. E pensar que o superestimei em demasia… e por tanto tempo :\

P.S: melhor citação (p.52-53)

“- Mãe, por que as pessoas têm que morrer?

[…]

– Querida, as pessoas se cansam – disse ela, delicadamente.”

Resenha: O dia em que matei meu pai, Mario Sabino

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Classificação: 4 estrelas
Páginas: 163 (29 capítulos)
Editora: BestBolso
Tema: família, crime, complexo de Édipo
Link: Saraiva

O livro conta, sem rodeios, não como o personagem matou o pai, mas porquê. São as motivações que de fato importam nessa história, não a elaboração do plano, visto que no primeiro parágrafo já se deu a tragédia e não há mais o que ser efeito a não ser uma visita íntima ao passado do protagonista.

Numa história que envolve complexo de Édipo, sobretudo, o personagem principal vai aos poucos – com memórias infantis e só depois juvenis – delimitando o caráter do pai e o seu próprio. É algo completamente atrelado, e não exatamente subentendido.

Para cada ação do pai, nasce ou cresce uma reação e um instinto naquele filho que, primeiramente impotente, guarda rancores para si numa história crua e bem escrita.

Avalio que este seja um livro curto porque os floreios aqui não são bem vindos, o que é ótimo.

Claro, são bons os livros de tramas policiais que se desenrolam com encadeamento de diferentes perspectivas que aos poucos se somam, mas aqui o viés é orientado pelo relato e confissão verborrágica de um adulto frustrado, amargurado e rancoroso. É uma conversa explícita com o leitor!
E tudo, sem dúvida, é forte na trama (de repente nós é quem somos impotentes). Desde a obsessão dele pela mãe e o que isso desencadeia até as discussões com o pai e quais feridas aquilo abre. Em certo momento os desabafos são interrompidos para que possamos ler um livro escrito pelo narrador-personagem. É uma pausa, um fôlego na história. Mas é, também, uma segunda chance de conhecer aquele que nos conta.

O conteúdo é adulto e choca, mas não é com essa intenção barata que a obra ganha o leitor com avidez. É pela qualidade que não se nega nem no estilo, nem nas palavras, nem no enredo. O mais surpreendente, avalio, é a inevitável estima que de repente desenvolvemos por aquele que mata. Chega a ser irônico e cruel… conosco.

P.S.: Melhor citação (p.51)
“[…] o tédio jamais move os grandes homens. O que os impulsiona é a Ideia.”

 

Resenha: As virgens suicidas,Jeffrey Eugenides

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Classificação: 2 estrelas
Páginas: 231 (5 capítulos)
Editora: Companhia das letras
Tema: suicídio, juventude, fanatismo religioso
Link: Submarino

Sério, eu queria muito ter amado esse livro. Eu levei anos para finalmente comprá-lo depois de tanto querê-lo.

…e levei muito tempo, também, para terminar depois de ter começado. :/
Sim, eu arrastei essa leitura por motivos que – acho – apenas para mim são óbvios: é difícil ter empatia pelas personagens (qualquer uma), os capítulos são enormes, o(s) narrador(es) incerto(s) me incomoda, a leitura é pouco fluida.

Claro, pode ter sido só a época em que eu li. Fato é que eu darei uma segunda chance a esse livro porque até eu acredito que o problema em não ter gostado esteja, de fato, em mim.

Tenho uma verdadeira apreciação por histórias pesadas como essa, mas na trama das irmãs Lisbon – Mary, Cecilia, Lux, Therese e Bonnie – o que mais me incomoda é um motivo. Quer dizer, digo um motivo explícito. Sinto as coisas muito em aberto nesse livro! A trama familiar está lá, como um pano de fundo gritante e desconcertante, entretanto os desarranjos familiares me convencem pouco. Sei lá, eu gostaria de, ao menos, depois de ter lido tanto sobre as personagens, entender melhor cada uma delas e seus vazios, e suas angústias, e seus motivos, e principalmente suas obsessões como a morte.

Porque sinto que tudo estava estabelecido. Elas queriam morrer e pronto, independente de qualquer mudança no curso, enfim… como um pacto que deveria ser cumprido independente de qualquer coisa.

Talvez eu devesse ter lido numa época em que eu estivesse menos… não sei. Eu só queria respostas. Respostas, essas, que os narradores não nos pode dar. Daqui um tempo isso deverá me incomodar menos.

P.S.: melhor citação (p.11)
“[…] ‘O que você está fazendo aqui, meu bem? Você nem tem idade para saber o quanto a vida pode se tornar ruim.’
E foi então que Cecilia forneceu oralmente aquilo que seria sua única forma de bilhete de suicídio, e ainda por cima um bilhete inútil, porque ela sobreviveria: ‘É óbvio, doutor”, ela disse, “você nunca foi uma menina de treze anos.’”

Resenha: A menina que roubava livros, Mark Zusak

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Classificação: 5 estrelas

Páginas: 478

Editora: Intríseca

Tema: vida, morte,

Link: Saraiva

Que livro aterrador! Quando penso num livro que, “completo”, contenha todas as funções de linguagem possíveis (da metalinguística à poética), inevitavelmente esbarro nessa obra.

E tropeço nela. E nela me enrolo, me deito, abraço. Como eu amo esse livro! Não é o melhor que eu já li, não. Nem é o livro que eu mais amo no mundo. Mas é de uma humanidade que me toca sempre que eu lembro e assim sempre vai ser, eu sinto. Entrou na minha memória afetiva, e assim sendo não posso ser imparcial.

O livro trata da história de Liesel Meminger, contada pela Morte, no período da Segunda Guerra Mundial. Um dos pontos à favor nesse enredo é que a menina não é uma judia, como se poderia prever (como eu previa). Não! Liesel é alemã e nem por isso as coisas são menos densas em sua trama.

Acho extremamente inteligente as divisões em partes, os subtítulos, os capítulos, as listas. É, no começo uma bagunça dada à novidade, mas aos poucos o leitor se encontra e vê, naquilo, uma organização tal qual foi feita para ser. Outra coisa que me cativa também são os cortes dados na história, que a salvam duma sequência muito metódica mas nem sempre a livram de uma leitura arrastada.

O melhor, considero, é entrar na história sabendo pouco. Ou quase nada, como eu sabia. Saber que a morte é narradora e a menina é alemã já é mais que suficiente! O bom mesmo é ter a experiência sensorial de se envolver com os personagens tal qual eles se apresentam.

O triunfo do livro não é a história. Creio que, sim, os personagens. A morte e a menina, seus pais e o menino, o moço e os livros que ela rouba. Tudo é um painel bem pintado! Ao fim você percebe que mesmo os coadjuvantes pintados em tinta opaca ao fundo da tela formam a grandeza da cena.

E aliás, por falar em cena. Neste livro reside uma das pinceladas mais vívidas e lindas que eu já li. Perto do fim, eu estava rendido e em público pranto, sem vergonha. Foi a realização de um sonho! Ter chorado em local público através de um livro.

Sem mais, não quero entusiasmar e encher de expectativas quem antes ler essa resenha. Apenas quero que leia. E que sinta a partir deste livro o que quer de mais autêntico possa vir. Apenas…

P.S.: Melhor citação (p.306)
“Deus.
Sempre pronuncio esse nome, ao pensar naquilo.
Deus.
Duas vezes, eu repito.
Digo o nome Dele na vã tentativa de compreender. “Mas não é sua função compreender.” Essa sou eu respondendo. Deus nunca diz nada. Você acha que é a única pessoa a quem Ele nunca responde? […]”

Resenha: Sweet Tooth – Exército Animal (12-16)

Bom, o negócio está totalmente alucinante nessa história. Com um primeiro volume essencialmente não-verbal, nesse encadernado, é mais uma prova do quão visual é o traço e a personificação de cada personagem.

A essa altura já estamos, pois, muito familiarizado com o Gus (o especial menino híbrido) e o sr. Jepperd (o herói não-politizado)!

Nesse volume foi pura ação! Ainda assim o roteirista abriu espaço para – mesmo que de uma forma pouco aprofundada – contar as motivações básicas de cada algoz da trama. Todos têm, como se sabe, um motivo especial para agir da forma que agem e se apegarem tanto em suas lógicas e crenças particulares.

Bom, o plano de fuga dos meninos híbridos é incentivado por um personagem que outrora foi muito importante no volume passado. De toda forma, são muitos os engajamentos e eu tenho certeza que há muita água para rolar nesse rio chamado SWEET TOOTH.

st6

As revelações foram estilo punk, se é que eu posso considerar assim. Sem dar spoilers, posso dizer que não seguiu nenhuma linha óbvia, sob qualquer perspectiva, aliás. Foi surpreendente e no timing perfeito.

A violência – agora ainda mais um personagem na história dos personagens – foi tão forte que me parece óbvio que as coisas só piorarão. Espancamento e morte seguirão em linha reta, não duvido.

st7Sério, mal dá para destacar o destaque desse encadernado. Não sei se as novas revelações sobre o “nascimento” (ou não) do menino, se o exército animal que pelas circunstâncias se formou, se a traição de um dos personagens ou a revelação sobre o passado de um deles é que foi mais importante.

Minhas esperanças com relação a Sweet Tooth estão altíssimas, é minha conclusão. Há tanta coisa já explicada e também tanta coisa por vir que em nenhum momento o leitor se sente enrolado, levado à frente com apenas promessas e reviravoltas sem sentido. Não! O caso aqui é totalmente outro. Há, sem dúvida, um roteiro denso e intrincado que faz gosto acompanhar.

Mas devo confessar: começo a economizar, para não acabar tão rápido. 🙂

P.S.: 4 estrelas