Janela aberta

Estou diante de uma janela aberta com cortina. Isso mesmo, agora, enquanto escrevo. Não sei exatamente porque isso me traz um sentimento e sensação bons.

O movimento fluido do tecido combina com essa mornidão de começo de dezembro. Também me faz lembrar o filme “Precisamos falar sobre Kevin”, o que poderia ser triste, mas não é. Gosto do que é triste, aliás. Mas isso não é.

É só melancólico, e um pouco poético. E não gosto muito de poesia, mas do que é poético encho os olhos e os ouvidos. É como se minha vida pudesse ser transformada, e daí viesse algo novo… Ótimo, preciso de algo novo. Sempre novo, todo dia novo, mesmo que eu seja isto; rotina.

O metodismo não me incomoda, mas o que é abusivo me enjoa. Muito macarrão com atum me enjoa, muito Oreo me enjoa, muito Nesquik me enjoou… agora, veja só, tenho uma necessidade absurda de beber aquilo, aquele néctar de infância com poder de evocar memórias, tempos e períodos que já se foram. Uma pena!

E também isso é especulação. Não sei se goles podem me remontar um tempo. Só sei do que é poético. Um filme, um CD, um farfalhar de folhas de manga, um vento na cortina. Isso me emociona, até. Me arde o nariz, me embaça um pouco os olhos. Gosto, sem dúvida, do que é bonita. E do que torna minha vida feia um pouco mais bonita eu gosto ainda mais. Não tenho como escapar de mim, então gostaria de me cercar do que é belo.

Quero me certificar de que será belo, antes. Aquela decepção, a traição, o arriscar em mim mesmo, a solidão que depois passa, enfim. Se for belo, vale a pena. Sou desses que “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Sim, é brega. E não tinha me dado conta do quão brega eu era, eu sou. Eu, que nunca escrevi cartas de amor. Eu, que nunca usei penduricalhos no celular. Eu, brega. Prazer.

Te aceito se você um dia for embora e nunca mais voltar. Por mais que odeie ser encantado e depois esquecido, eu aceito. Há beleza nesse ser deixado para trás. Tem poesia, aí. E um pouco de dor, do que sou feito. Sou todo dores, se não doesse, não seria eu. Seria alguém, feliz. O que não sou. Só alegre, quando dá. E não me importo, não muito.

Mas o que falei mesmo, sobre a janela? Não sei… “Eu achava que sabia”, é minha frase para tudo em mim mesmo. Tirei do final de “Precisamos falar sobre Kevin”, o que é a prova de que mesmo as coisas mais feias e tristes podem provocar algo de poético.

E no fim, o que importa é quão bem você se enreda em poesia sem sofrer mais que o necessário.

Modo verbal

Nos muitos dias em que nos embolamos, gerúndio é certamente a forma nominal que nos move cotidianamente. Estamos, pois, sempre fazENDO, pensANDO, sumINDO… e indo.

E enquanto vamos, nesse loop infinito de desconhecimentos chamado vida, nos surge a necessidade por vezes inominada de pensarmos infinitivo. É preciso, afinal, amAR, vivER, refletIR… e vamos.

E então chegamos. Não ao fim, mas ao estado crítico em que talvez pareça o fim, queríamos que fosse assim ou perdemo-nos em enfins. Não é o fim! É só a fase particípio da vida. Dolorosa como só, é quando por dentro sentimos o coração como que esquecIDO, envergonhADO e… E mais um sem-número de formas dentro desta: preterIDO, desprezADO, estressADO, maltratADO, subjulgADO, subestimADO, incapacitADO, […] [……] cansADO. Mas nunca terminado em –EDO. Édo conhecimento de todos, afinal, que a fase é ruim e não permite floreios; mas também não é poderosa o bastante para encarcerar os corações versados não apenas em verbos, mas em tudo o que há. E nEle há… TUDO.

Mudança! AMADO, QUERIDO e CUIDADO também são particípios. E coexistiram, sempre, independente de todo o resto.

Às vezes escapa pelos dedos

Acho que eu pedi para não aparecer.

Mas Ele deve ter dito: “Vai, sim. Eles estão esperando por você já há algum tempo…”
E então eu vim. Mas eu não quis continuar, eu lembro.

E sinceramente, por que deveria?

Mas Ele meio que disse: “Vai, sim. Há algumas coisas que você ainda precisa começar a fazer”

E desde então não tenho certeza se já faço. Sei lá… é complicado.

Às vezes é quase como se não tivesse nenhum retorno. E às vezes o prelúdio de algo muito bom. Mas de um modo ou de outro é sempre insuperável o estar com Ele e Dele ser: filho, servo, amigo, enfim, o que der se não der o que eu EU quiser.

Ele me tem cativo e com a promessa ativa de que não vou pedir pelo mais fácil, embora seja sempre tentador.
E então vivo. Uns dias apáticos, outros melhores. A vida é isso aí mesmo que a gente tem nas mãos e às vezes não sabe como manejar. E eu, particularmente, sou desastrado demais. Ainda que cuidadoso. É possível? Sim, se chama complexidade humana.

E eu digo que não é fácil ser gente. Não gente de qualquer jeito, claro, mas GENTE. Que apanha, que levanta, que teima, que quer desistir e não desiste, que erra. Erra, erra, erra, erra… e gosta de errar.

E depois se arrepende de ter gostado… (risos)

Viver não só com Deus mas para Ele é das coisas mais difíceis a que me permiti desde que “desci a contragosto”. Eu digo não diariamente a um monte de atalhos, risos fáceis, diversão em alta escala só porque penso no futuro e por isso prefiro a estrada tortuosa, desregular e por vezes solitária.

Não é fácil preencher os requisitos, por assim dizer. Estou no processo. Mas firme. Quando eu disse sim a Ele, eu quis dizer sim até o final. Independente de quando, onde e como seria isso. Independente da minha vontade de antecipar ou de adiar, ao bel prazer de como estou, com quem estou e o que de fato sou.

Viver não é fácil, mas se aqui fomos colocados para isso… por que não?

E mesmo que aos demais olhos eu mais sobreviva do que viva, há uma recompensa. Não a coroa, não as novas vestes, não o novo nome (um mais sonoro, por favor, ok?), não o ouro e toda a riqueza, MAS ELE… que sempre está lá quando ninguém mais pode estar!!!