P.S

Há um P.S. em todas as coisas. Das bulas de remédio aos planos de felicidade. Das resoluções de Ano Novo, aos sonhos realizados. Em tudo há um Porém Se…

Porém, se você não arrisca morrer tentando cada vez que está vivo, então você já vive à risca uma morte sem descanso.

 

Prioridades

Estou sempre em busca de mais amor, mais amizade, mais lealdade provada, mais felicidade. Sempre estou e nunca sou. Só inconstante e incerto, isto é que internalizo. Essa aliteração INFINITA.

Não sei porque. De todo modo as minhas prioridades não precisam ser entendidas, só atendidas. Eis o problema! Há nesse caso uma grande diferença silábica desde o começo. Está todo mundo procurando suas próprias realizações e obter as minhas, quando estamos todos nadando no mesmo mar, é literalmente como buscar pérolas em conchas que já foram saqueadas.

Não desisto. Uma ora a coisa toda acontece. Se não de vez, então em partes; se não por muito tempo, então num minuto. Há algum sentido nisso: viver. Se soubéssemos qual, não faria sentido viver PARA descobrir. O saber tudo é mesmo um erro; daí sua impossibilidade.

Ótimo, ao menos desses estou livre.

A grama mais verde

Não sei se é uma regra a todas as pessoas, creio que não. A maioria delas quer logo se tornar um adolescente e depois um adulto que dirige e sai à hora que quer, mas eu tive meus dias de Peter Pan.

Enquanto todos se deleitavam na puberdade e suas novidades cheias de promessas, eu me afundava em crises – inclusive de choro -, cada vez mais me infantilizando e fingindo não saber que eu deveria atender às expectativas de um adolescente comum. Comum… engraçado, porque isto é o que nunca fui. Hoje a palavra até me incomoda. Não quero ser comum, normal, ordinário.

Quero ser eu mesmo. Autêntico, com estranhezas. O protagonista e dono de minha própria história! Quero viver como num sitcom e pensar na minha vida como se fosse uma boa série em sua melhor temporada. Mas isso não é real, é só ficção. A vida dos outros é que parece séries intrincadas, complexas e cheias de altos e baixos. A minha não, nunca foi.

Estou no limiar entre o extra e o ordinário. Um vão vazio entre os dois, meu abismo.

Em lugar nenhum é onde estou. Enquanto olho em volta e tudo parece estar em movimento. Por vezes minha vida é tão sem movimento que noto, sem dificuldade, os movimentos de translação e rotação da Terra. Sou a própria inércia, ineficaz até em ser. Tenho dentro de mim listas mentais do que fazer e enredos interessantes do que seria uma vida boa. E minha vida não é ruim, veja só!

É que eu exijo demais do pôr-do-sol. Gosto do que é fabuloso e romanceado, como se fossem trechos de umaboa obra de cinema ou de biblioteca. A verdade é que eu não sou justo, é isso. Nem comigo mesmo, nem com os outros.

Todas as vidas são o que são! Sob a perspectiva alheia, talvez a minha é que se pareça com uma série (certamente experimental e eternamente no piloto) e a deles é que se assemelhe a um quase-nada. Não sei… Provavelmente não. Eu nunca sei e isso é de fato autêntico. Odeio não saber muita coisa, mas não posso odiar a mim mesmo por essa ignorância involuntária. Quando ninguém sabe o suficiente, não posso me obrigar a estar acima de uma média que não sabe se medir.

Sempre tenho a sensação de que estou sendo superado. Na idade em que estou agora pareço não ter experimentado e vivido o bastante, e isso me frustra, essa deficiência. Quando me defronto com pessoas do passado a vida delas sempre parece ter tomado rumos mais respeitáveis e experiências interessantes. É que sou incapaz de olhar para o meu ponto de partida e onde estou exatamente agora, é isso. Não chamo esse defeito de talento para a inveja, mas de autocrítica.

Exijo para mim uma grama mais verde e de cheiro mais doce, sempre. E não o faço em comparação ao meu vizinho da vez, mas de acordo com as orientações do vácuo que há em meu coração. Ele geralmente me consome, esse buraco.

Resoluções de Ano Novo

Parece já um pouco tarde para se pensar em resoluções para o ano que agora é menos um estrangeiro e mais um visitante acomodado. Mas tenho dessas manias, mesmo. Em meu metodismo bagunçado, mais desejado que vivido, sempre burlo as convenções de um novo ano e só vivo.

Desse meu jeito canastrão, como quem ensaia e nunca estreia no palco, mesmo. Faz parte de mim ser assim: desde não dar a mínima para o que a maioria dá até divagar sobre isso como se fosse de fato grande coisa.

Na minha pequenez, qualquer pequeno feito é grande coisa. Na minha falta de assunto e enredo, qualquer bobeira é espetacular. Sou comum demais, mas não ordinário.

Paradoxal, é como melhor posso ser descrito.

Daí é que certamente surge essa novidade por querer uma resolução de ano novo só para mim. E neste ano – ainda que tarde – quero me esmerar com a possibilidade de seguir um cronograma e cumpri-lo do começo ao fim.

Estranho que meus sonhos caibam em papel quando dentro do meu peito eles se acotovelem, gritem e se escondam. É demasiado limitado, eu sei. Mas é alguma coisa. É só o detalhe do primeiro degrau, ou dos primeiros. Na medida em que me comprometo, percebo que não devo demonstrar a expectativa de uma jornada, mas meu interesse por ela.

Se eu me interessar pela vida – a minha, mesmo –, talvez eu não me abandone tanto como antes. Porque é o que sinto que fiz comigo mesmo no passado. Demandei tanto esforço em ser ‘ser humano’ que fui pouco humano inclusive comigo mesmo, o que não me assusta, aliás. Ser humano atualmente tem implicado menos humanidade do que simplesmente o não ser.

Mas o pior, acredito, é saber que como prioridade em minhas resoluções de ano novo está reaver minha dignidade. Porque eu claramente a confundi com orgulho. E definitivamente não é a mesma coisa.

Fuga

Dia desses escrevi sobre minha vontade de fugir, quando adolescente. Não fui de todo sincero. Acho que nunca sou, embora sempre seja.

Digo isso porque não é exatamente uma vontade do passado. Há uns meses aí pensei na mesma coisa. Fugir, ser um andarilho, um nômade, eu acho. Confessei isso a alguém que considero inteligente. Ela me disse que daria certo, só com muito dinheiro.

Engraçado, porque eu não falei de dinheiro. Falei sobre ir para longe, e recomeçar uma vida, um lugar onde eu não tivesse passado para ninguém, onde eu pudesse ser, de fato, quem eu quero ser. Uau, ler isso que eu escrevi me torna tolo. É como me sinto.

De súbito, parece simples. Porque não ser quem quero, agora, se nada me impede. Mas será? Tudo me impede. Essa resolução da fuga, esse objetivo, só me é possível porque a própria ida é uma utopia em si. Sei bem que não faria isso. Seria um desperdício de energia, de vida. Eu continuaria esse mesmo ser, nojento e brilhante a depender da luz que se inside, e do lado que se vê.

Metaforicamente, sou como a lua. Escura e soturna. Mas há algo que, bondoso, reflete sua luz sobre mim e então eu posso brilhar – não sempre. Mas sozinho sou puro pó e escuridão, o que dá medo. Há crateras tão profundas em mim e eternas pegadas de astronautas marcando meu coração para todo o sempre. Sou um satélite, é isso. e orbito por aí, perdido nesse imenso vácuo que é a vida.

Preciso do Sol, entendo. Não tenho de fato para onde ir e, se fosse, não seria nada como imaginei. Preciso mesmo de Sol. Não é fugir que me salva, é ser aquecido.

A burrice sem limites

Acordo, tropeço em meus erros do ontem e sigo a passos largos para o acerto, minúsculo, que o hoje me reservou como um degrau para a abundância de êxitos que colecionarei no futuro.

Mal sei que ainda estou sonhando. Nas primeiras horas do dia já cometo os mesmos erros. Aqueles que estou cansado de perdoar a mim mesmo e de pedir perdão. Minha humanidade parece mais regada a erros que a dos outros. Não entendo. Nem aceito. E se me revolto contra isso, porque não uso essa força icônica e natural para me impedir que fazer as mesmas coisas?

Não sei. Ser humano é um mistério para mim. Mas se ser humano é ser imperfeito e cheio de falhas, então sou bastante autêntico no que fui proposto ser. Isso deveria me dar as vantagens de saber quem sou e como deixar de ser. Mas não dá. Ser humano, na verdade, é mais que um mistério. É um não saber…

…de tudo, e de nada.

Os sonhos que não cessam

A mim parece incrível que só eu não tenha capacidade de sonhar à noite. Todos os meus amigos têm seus sonhos malucos, proféticos, sinalizadores, enquanto eu me deito num dia e acordo no outro sem interrupção que se justifique.

Já sonhei, com poços profundos, palhaços assassinos, uma e outra coisa. Mas eles sonham sempre. Enquanto eu… sonho sempre acordado. Minha mente não para, por vezes meu fôlego não dá conta. São sonhos eternos, longos, que se metamorfoseiam em coisas e épocas diferentes com a mesma intenção e tema de antes.

São esses, os meus sonhos. Ainda infantis, mas muito adultos. Coisas em que penso e depois penso porque pensei. Há um propósito! Como tudo em mim, há razão para existir. Eu me compreendo muito bem. Ou nem tanto. Mais nem tanto do que muito bem, mas no entanto… bem… eu não sei. Como foi mesmo que parei nesse aspecto?

Os sonhos que me orientam também são responsáveis por minhas perdas. As principais, quero dizer. É no caminho para a conquista que conquisto minhas derrotas.

Não sei, escrever sobre elas, agora, me traz a consciência de que são minhas, de fato. E por elas tenho estima, eu acho. Como um gato de que não gosto muito, mas é meu. Devo cuidar. De repente tenho apreço por tudo o que passei, porque é isso que me torna agora esse ser cheio de sonhos acordados. Coisas tão abstratas que, eu sei, bem poderiam ser concretas. Assim serão! Sonho para que seja.

Voar… era meu sonho de infância. Eu olhava o horizonte limitado do terraço da minha casa e pensava: “se eu tivesse asas…”. Mais tarde, quando adolescência, eu pensava em fugir. E escutava uma música sobre fuga com lágrimas nos olhos e uma angústia no peito, daquelas que apertam como mãos, sabe? E então, agora, sonho com viajar. Ir para longe, onde eu não seja ninguém para todos, onde eu seja qualquer pessoa para qualquer um, onde eu não tenha passado nem futuro, nem pecado nem trauma.

É tudo o mesmo sonho, percebo. É tudo uma necessidade só de sair de mim, desse casulo, essa consciência. Antes eu achava que poderia ser com fantasia, depois com ignorância, já hoje… sabendo bem que não posso ter asas e que fugir de mim seria impossível, penso em apenas sair. E fingir que não sou eu mesmo. Porque, para ser sincero, não tenho mesmo muito orgulho.

Deveria?

 

Janela aberta

Estou diante de uma janela aberta com cortina. Isso mesmo, agora, enquanto escrevo. Não sei exatamente porque isso me traz um sentimento e sensação bons.

O movimento fluido do tecido combina com essa mornidão de começo de dezembro. Também me faz lembrar o filme “Precisamos falar sobre Kevin”, o que poderia ser triste, mas não é. Gosto do que é triste, aliás. Mas isso não é.

É só melancólico, e um pouco poético. E não gosto muito de poesia, mas do que é poético encho os olhos e os ouvidos. É como se minha vida pudesse ser transformada, e daí viesse algo novo… Ótimo, preciso de algo novo. Sempre novo, todo dia novo, mesmo que eu seja isto; rotina.

O metodismo não me incomoda, mas o que é abusivo me enjoa. Muito macarrão com atum me enjoa, muito Oreo me enjoa, muito Nesquik me enjoou… agora, veja só, tenho uma necessidade absurda de beber aquilo, aquele néctar de infância com poder de evocar memórias, tempos e períodos que já se foram. Uma pena!

E também isso é especulação. Não sei se goles podem me remontar um tempo. Só sei do que é poético. Um filme, um CD, um farfalhar de folhas de manga, um vento na cortina. Isso me emociona, até. Me arde o nariz, me embaça um pouco os olhos. Gosto, sem dúvida, do que é bonita. E do que torna minha vida feia um pouco mais bonita eu gosto ainda mais. Não tenho como escapar de mim, então gostaria de me cercar do que é belo.

Quero me certificar de que será belo, antes. Aquela decepção, a traição, o arriscar em mim mesmo, a solidão que depois passa, enfim. Se for belo, vale a pena. Sou desses que “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Sim, é brega. E não tinha me dado conta do quão brega eu era, eu sou. Eu, que nunca escrevi cartas de amor. Eu, que nunca usei penduricalhos no celular. Eu, brega. Prazer.

Te aceito se você um dia for embora e nunca mais voltar. Por mais que odeie ser encantado e depois esquecido, eu aceito. Há beleza nesse ser deixado para trás. Tem poesia, aí. E um pouco de dor, do que sou feito. Sou todo dores, se não doesse, não seria eu. Seria alguém, feliz. O que não sou. Só alegre, quando dá. E não me importo, não muito.

Mas o que falei mesmo, sobre a janela? Não sei… “Eu achava que sabia”, é minha frase para tudo em mim mesmo. Tirei do final de “Precisamos falar sobre Kevin”, o que é a prova de que mesmo as coisas mais feias e tristes podem provocar algo de poético.

E no fim, o que importa é quão bem você se enreda em poesia sem sofrer mais que o necessário.

Todo mundo tem suas verdades secretas…

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Vai, pode dizer, que tipo de pessoa você é, afinal?

Porque isso determina, definitivamente, como você encara o título desse post e como enxerga a decadência das pessoas (ou dos personagens, no caso de estarmos falando especificamente sobre a novela, claro)

É que ainda não decidi, sabe? Quero falar de uma forma ampla, que seja acessível a gregos e troianos, mas há apenas algumas hora do fim dessa novela não sei se posso usá-la como papel de parede sem comentar suas cores de fundo.

Lolita Vladimir NabokovBom, eu comecei a prestar atenção nessa novela quando descobri que havia uma inspiração em Lolita, de Vladimir Nabokov. Como eu não podia gamar nisso se eu fui perseguido por essa história por tanto tempo! Foi, de longe, o primeiro livro que busquei nas prateleiras da biblioteca da faculdade e me consumiu por cerca de uma semana. Dolores e Humbert logo se tornaram meu cotidiano. A razão? Era uma história envolvente e doentia, justificada por nenhum motivo plausível, mas tão real quanto eu mesmo era (SOU!).

Nunca esqueço como começou essa fixação. Era uma madrugada qualquer e eu tinha acordado de um pesadelo. Na sala meu pai assistia ao Corujão e o que passava àquela hora? Lolita. Sim, não o filme de Kubrick, mas uma versão em cores mais atual e bem empolgante. Aguentei até onde pude para acompanhar a história que me fisgara em minutos. Mas não consegui ir até o fim. Daí vem a razão para eu ter buscado o livro – uns 5 ou 6 anos depois – como prioridade máxima na faculdade.

Acho que gostei de como a personagem era cínica e inocente, ao mesmo tempo. E como seu algoz parecia também amor verdadeiro, tipo Disney.lolita1997_poster2

No fundo, o que me cativou em Lolita e em Verdades Secretas é um pouco da decadência dos personagens e principalmente suas possibilidades ínfimas de serem plurais. Gosto de personagens instáveis, sabe? Sem delimitação de vilão e mocinho, bom e mau. Sei lá! Tramas em que todo mundo circula muito facilmente pelos caminhos que lhe convém, sejam apegados a princípios ou sem princípio algum, também.

Calma, não estou defendendo o uso de drogas, aborto, book rosa, traição, mentira, alcoolismo, assassinato, interesse financeiro, suicídio e roubo (sim, teve de tudo nessa novela!). Mas gosto de ver o erro e o acerto nas pessoas fictícias, a glória e o fracasso. Sabe por quê? Porque me torna igualmente real.

No fundo todo mundo tem suas verdades secretas. Provavelmente não tão densas ou sombrias, mas há que se ver que aquela foi uma obra de ficção de um horário específico retratando um nicho característico dessa selva de concreto que é a vida. Claro, não apoio ou tento justificar a maneira que cada um teve de sobreviver, aplacar a dor ou conquistar o que queria. Mas posso dizer que as atitudes pareceram, por si só, justificadas – mesmo que de maneira torta, afinal no folhetim de Walcyr Carrasco 90% dos personagens tinha não só falha de caráter, mas um escrúpulo bem decadente.

De todo modo, sei que ali há um recorte em lentes de aumento do nosso próprio mundo. Onde, não por coincidência, todos possuíam características que a gente também vê diariamente, só que de um modo mais diluído, bem menos concentrado em um lugar só e num mesmo tipo de gente.

Acho que o principal, nisso tudo, é saber reconhecer que todos nós somos pessoas. De algum modo farinha do mesmo saco; ou melhor, pó da mesma terra. As nossas verdades secretas são também coisas de que nos envergonhamos, mesmo não sendo tão grave. E para falar a verdade, todo mundo já fez ou faz algo imoral\amoral. Não é mesmo?!

P.S.: é aquilo, né?! Quem não tem teto de vidro…